sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Como a folha de uma árvore

Ingénua,
Como a folha de uma árvore,
Caída no vazio do chão em pleno Outono.
Calcada, espezinhada.
Desfeita.
Ingénua,
Como a folha de uma árvore,
Atraiçoada pelo vento,
Pela chuva.
Pelo brilhar do sol.
Ingénua,
Como a folha de uma árvore,
Que um dia fez resplandecer a sua cor.
A sua vida,
A sua alma.
Ingénua,
Como a folha de uma árvore,
Que morre,
Boiando do ribeiro para o riacho,
Do rio para o mar.
Do fogo para as cinzas,
Da calma para o tormento.
Da vida para a morte.
Ingénua,
Como a folha de uma árvore,
Que morre:Da vida para a morte

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Mas que irei voar, Irei.

Se vou ter asas?
Não sei.
Mas que irei voar,
Irei.
O resto?
É a “sombra de árvores alheias”
Que nos incomodam enquanto sonhamos.
Sombras que aguardam o nosso naufrágio,
Esperando que afundemos.
Que sejamos sepultados e enterrados,
Que a terra suja nos esconda.
Aguardam o nosso cair.
Não esperando que nos levantemos.
Aguardam que sejamos consumidos.
Esperando o nosso fim.
Mas, “o sonho comanda a vida”.
Se vou ter asas?
Não sei.
Mas que irei voar,
Irei.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Sozinha caminha a cidade

Sozinha caminha a cidade,
Como se ninguém nela parasse.
A olhasse.
A amasse.
Perdida caminha a cidade,
Como se ninguém a sentisse.
A ouvisse.
A seduzisse.
Para longe caminha a cidade,
Como se ninguém por ela passasse.
Por ela sofresse.
Por ela se perdesse.
Desamada caminha a cidade,
Esperando que alguém nela repare.
Que aprecie a sua calçada
Que olhe além das paredes.
Dos jardins. Das ruas e ruelas
Sozinha caminha a cidade
Para sempre,
Sozinha.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Dei um passo em direcção ao sol

Dei um passo em direcção ao sol
Passo a passo. Pouco a pouco.
Segui o arco-íris. Levar-me-ia perto.
Por breves instantes senti-o próximo.
Tão próximo.
Estava ali, mesmo de frente para mim
Parecia que me queria tocar.
Tive medo. E caí.
Se calhar o sol era demais para mim.
Não devo voar tão alto.
Tentei a lua e dei o primeiro passo.
Dei o segundo. O terceiro. Quarto.
Tentei percorrer o luar.
Imaginei que seria mais fácil.
Estava enganado.
Profundamente enganado.
A lua era traiçoeira.
E o caminho até ela era difícil.
Tantos eram os obstáculos.
Desisti antes de cair.
Não me magoei.
Para mim as aventuras acabavam ali.
Traído pela lua. Pelo sol.
Não. Eu sei que não foi bem assim.
Na verdade fui eu que me atraiçoei
A mim mesmo.
O medo dominou-me. Não consegui.
Sou um simples mortal.
E a culpa não é minha.
Não exijam tanto de mim.
Se fui ao sol não foi por minha vontade.
Se quis a lua?
Na verdade não a queria.
Porque me pedem tanto?
Já sabem que irei falhar.
Estou farto. Parem.
Eu também tenho desejos.
Ambições. Pretensões.
A minha vida não é a tua.
Aprendi hoje isso:
A minha vida não é a tua.
Deixem-me em paz.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Hoje não fui ao café

Hoje não fui ao café.
Nem li o jornal.
Mas e daí?
Poupei uns euros e voltei para casa.
Liguei o aquecedor e empanturrei-me de comida.
E agora vocês perguntam?
"Não era suposto isto ser um poema?
Ou um texto bonito?"
Ao que eu respondo:
"E não é?"
E voltam a retorquir:
"Não estamos habituados a este tipo de escrita!"
Não vos respondo, e questionam-me:
"Não respondes?"
Ao que eu digo: "Não".
Agora é a altura de berrarem comigo.
Gritarem.
Chamarem-me nomes.
Insultarem (é sinónimo).
Tudo por causa da palavra não.
Já estou a ver que vai ser o cabo dos trabalhos.
O Raimundo Silva também passou horrores por causa do não.
Yes, é aqui que entra a intertextualidade.
Estou a ficar um escritor de textos literários.
Já nem escrevo mais para não estragar esta pérola da literatura.

O meu amor por ti não acaba

O meu amor por ti não acaba.
Hoje vou gostar de ti,
Tal como ontem.
Nem mais nem menos.
Mas o meu amor por ti não acaba.
Como uma fonte inesgotável
Como um recurso que se renova
O meu amor por ti é assim, não acaba.
Ergue-se a cada beijo teu.
A cada toque. A cada sorrir.
A cada imagem tua na minha mente
É assim o meu amor por ti, não acaba.
Que se quebranta face à tua tristeza.
À tua mágoa. À tua dor.
Face à melancolia sentimental sentida.
Não acaba o meu amor por ti.
Um amor irrequieto. Sereno.
Conduzido para o expoente da alma
Para o auge do sentimento.
Culminando na paixão.
É assim o meu amor por ti.
Um amor amado.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Um ser moribundo a entrar na decadência

O tempo parou e parei com ele.
Girei eu quando o mundo girou.
E rodopiei.
A terra tremeu. Eu tremi também.
Como um vaso que cai do umbral,
Como uma pétala emurchecida
Seca pelo sol.
Como um corpo que deambula
Por um trilho desconhecido,
Tenebroso.
Assim era eu, vagueando no escuro.
Em busca do que me faltava:
A alma.
Assim era eu,
Depois do tempo parar, do mundo girar.
E da terra tremer.
Um ser moribundo a entrar na decadência.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Não aconselhada a leitura a menores de 94 anos

Eu avisei-te, não devias ler.
E ainda continuas?
Olha que o destino final é trágico.
Pára enquanto podes.
Vai ser tarde de mais.
Olha para o que eu te digo.
Não, não avances mais.
Por favor.
Pela tua segurança.
Pára já aqui.
A opção foi tua.
O aviso foi dado.
Ultima oportunidade.
Não queres acabar aqui?
Pronto. Tu decidiste.
Vais te transformar num sapo.